Em tempos de pandemia vários métodos de proteção surgem e se tornam importantes para o combate eficiente contra seus agentes causadores. Entretanto, ao mesmo tempo que várias medidas são discutidas pela mídia e redes sociais confiáveis, as famosas “Fake News” se tornam muito constantes e são compartilhadas com uma velocidade rápida, atingindo grande parte da população.
Em meio ao caos social, as pessoas tendem a se proteger de forma mais eficaz visando a sua não-contaminação. A ciência então explica a importância de substâncias que ajudam no combate individual ao novo vírus, como a sempre e necessária lavagem das mãos com água e sabão, mas também com a utilização do álcool em gel 70%.
Mas porque essas duas medidas são eficazes para a eliminação do vírus?
O álcool 70% (tanto o líquido, quanto o em gel) possui uma concentração ótima para interagir com a membrana de gordura do vírus, rompendo-a, o que não acontece com concentrações menores, como o álcool 46%. O processo se torna mais eficiente devido a presença da água, principalmente devido as polaridades dos compostos, por isso uma concentração de álcool 70% (com aproximadamente 70 mL de álcool e 30 mL água) se torna efetiva. A estrutura do álcool possui uma parte hidrofílica (que interage com a água) e uma parte hidrofóbica (que interage com a membrana lipídica (gordura) do vírus). Quando a mistura de água e álcool (com uma concentração de 70%) entra em contato com a cápsula de gordura protetora do vírus, esta é rompida e as proteínas responsáveis pelas interações com a célula do corpo são desnaturadas, inativando e desestruturando o vírus.
Mas e o álcool 96%? Não seria mais eficaz?
O álcool 96% tem uma concentração de álcool elevada, o que acaba por evaporar mais rápido, diminuindo seu efeito protetor, além de aumentar bastante o risco de acidentes que podem provocar incêndios, queimaduras e irritação na pele. Já o álcool 70%, por meio das interações entre as moléculas de água e de álcool (ligações de hidrogênio), possui menor grau de evaporação, permitindo assim um maior tempo de contato e eficácia do processo. Lembre-se que a utilização do álcool em gel se faz necessário quando não conseguimos lavar as mãos facilmente, por exemplo quando estamos no transporte público ou em algum lugar sem acesso a água e sabão.
É importante saber que o sabão também possui uma parte polar e hidrofílica (que interage com a água) e outra parte apolar que é hidrofóbica (que interage com gorduras). Quando lavamos as mãos, ao esfregar, fazemos com que o sabão interaja com a cápsula de gordura do vírus, retirando-a, e as proteínas e os outros fragmentos dos vírus são arrastados pela água, inativando e os destruindo. Portanto, lavar as mãos sempre é o método mais eficaz.
E por que não podemos fazer álcool em gel em casa?
Com o maior consumo de álcool em gel pela população em geral, a falta do produto no mercado é uma realidade. Sendo assim, muitos vídeos na internet começaram a surgir ensinando as pessoas a fabricarem o seu próprio álcool em gel. Nessas receitas, das mais mirabolantes, diga-se de passagem, se faz uso de gel de cabelo ou gelatina incolor como espessante. Isso é muito perigoso, pois a pessoa leiga, ao fazer essa mistura, acredita que está protegida, podendo ter o efeito oposto, propagando ainda mais o vírus.
É muito comum nessas receitas que se misture o álcool 70% ao gel de cabelo, porém ao se fazer isso, acaba-se diluindo o álcool, deixando-o com uma concentração menor do que a necessária para sua eficiência. E mais, utilizar gelatina como espessante é ainda pior, já que ela é utilizada como meio de cultura para bactérias, podendo ser um ambiente favorável para outros microrganismos.
Portanto não se desespere! Quando estiver em casa, lave bem as mãos, esfregue bem as palmas, os dorsos, as pontas dos dedos e unhas, os polegares e os punhos. A lavagem com água e sabão é sempre mais eficaz. Deixe para usar o álcool quando estiver na rua e não poder lavar as mãos. Além disso, ao comprar o seu álcool em gel em algum estabelecimento como supermercados e farmácias, confira a concentração de 70%, a presença do selo do Inmetro, a marca do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade (Sbac) e o nome do químico responsável pela produção. Isso assegura que você está comprando algo de qualidade e que segue as normas de proteção. Não faça o seu próprio álcool em gel e nem compartilhe essas receitas ou “Fake News”, se informe e procure uma fonte confiável. Estamos todos juntos nessa batalha. Juntos somos mais fortes.
Escrito por Bruno Gumieri Fernandes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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